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" Nas controvérsias atuais sobre raça e diversidade racial, a genômica é celebrada
como produtora de inovações tecnológicas e detentora de autoridade científica. Ela
também tem sido proposta como o ramo da ciência que poderia confirmar ou refutar a
existência biológica das raças humanas. Tendo como alvo os pesquisadores da Saúde
Pública não familiarizados com as discussões da genética sobre raças humanas, o
presente artigo tem como propósito apresentar as hipóteses que, presentes na literatura
genética, defendem ou refutam as afirmações acerca do caráter biológico da raça,
apontando as limitações de seus pressupostos e a ambivalência das interpretações em
torno dos achados que embasam tais afirmações. Circunscrevendo a discussão aos
aspectos relativos à definição de espécie e Ue aos modelos evolucionários
humanos, procura destacar as possibilidades de contestação das interpretações sobre
os achados genéticos e oferecer aos pesquisadores argumentos que possibilitem a
superação do racialismo subjacente às teorias genéticas sobre a diversidade humana."
"As expectativas de que os achados do seqüenciamento do genoma humano dariam
fundamentação científica às classificações raciais não se confirmaram e os dados divulgados
tornaram popular a idéia de que a espécie humana é geneticamente homogênea quando comparada
à maioria das outras espécies (Do Races Differ? Not Really, DNA Shows – The New York Times,
August/2000). Porém, ao levantar dúvidas quanto ao caráter biológico dessas classificações, os
estudos sobre a diversidade gênica humana trouxeram, ao contrário do que era esperado, um
interesse renovado nas diferenças biológicas entre populações raciais e étnicas, adicionando novos
elementos à discussão referente à validade do conceito de raça humana como subespécie e a
plausibilidade dos modelos evolucionários. O debate acerca de questões metodológicas e aspectos
éticos do Projeto de Diversidade do Genoma Humano (PDGH) e das bases de dados genômicos já
apontavam os desafios a serem enfrentados pelos pesquisadores na concepção dos estudos de
diversidade gênica, especialmente na definição de uma população representativa para fins
amostrais (Lock, 1994; Foster et al., 2002). Questões relativas à utilização de consentimento
informado, à coleta das amostras, se de grupos lingüísticos e étnicos bem-definidos ou de
populações autóctones distribuídas de forma relativamente homogênea ao longo de uma grade
geográfica, o número adequado de amostras por população – 50, 25 ou 10 e a permanência dos
identificadores sociais nos registros foram apontadas por pesquisadores e representantes das
populações envolvidas."
"Stepan et al. (1993) destacam que uma das respostas ao racismo científico por parte
daqueles pesquisadores sujeitos aos estereótipos de inferioridade racial é a recontextualização dos
achados científicos, utilizando os instrumentos da ciência para questionar a explicação dos fatos
ou gerando dados sobre os quais novas afirmações poderiam ser feitas - contradiscurso científico.
Desse modo, o intelectual chama a tenção para os erros metodológicos, as limitações dos dados e
a lógica falaciosa do discurso científico dominante sobre as diferenças humanas, indicando
direções inovadoras para contextualização dos fatos. Tomando como público-alvo os
pesquisadores que não estão afeitos ao conhecimento genômico, o presente artigo buscou apontar
algumas das hipóteses genéticas empregadas na defesa ou refutação das afirmações acerca do
caráter biológico da raça, as críticas e limitações de seus pressupostos e a ambivalência das
interpretações em torno dos achados que embasam tais afirmações. Circunscrevendo a discussão
aos aspectos relativos à definição de espécie e subespécie e aos modelos evolucionários humanos,
procurou-se destacar as possibilidades de contestação de algumas interpretações sobre os achados
genéticos, ressaltando o caráter político e ideológico da ciência e provendo os pesquisadores com
argumentos que favoreçam a superação do racialismo subjacente às teorias genéticas sobre a
diversidade humana."
"Templeton (1999) sugere dois possíveis critérios definição de raça: delimitar o limiar
quantitativo mínimo no montante de diferenciação genética que é requerido para que se reconheça
subespécies ou permitir que raças ou subespécies sejam definidas apenas por padrões geográficos
encontrados para traços ou caracteres fenotípicos particulares.
No que se refere à diferenciação genética, as mudanças na freqüência de alelos nas
populações devem-se à seleção natural, resultante da variação populacional entre genótipos
individuais nas suas probabilidades de sobrevivência e/ou reprodução, à mutação, à deriva
genética e à migração (Cavalli-Sforza et al., 2003). Uma vez que eventos idênticos não ocorrem
em todas as populações humanas ao mesmo tempo, populações diferentes divergem nas suas
características genéticas."
"Na maioria das espécies, as populações mostram níveis de estruturação genética devidos a
uma variedade de agentes não mutuamente exclusivos: barreiras geográficas, processos históricos
e padrões culturais, sistemas de acasalamento, dentre outros. Como assinalam Balloux et al.
(2002), a estrutura genética de uma espécie reflete o número de alelos intercambiados entre
populações e estes fluxos gênicos tornam homogêneas as freqüências de alelos entre essas
populações, determinando os efeitos relativos da seleção e da deriva genética e,
conseqüentemente, a composição genética dos indivíduos. Um fluxo gênico alto evita a adaptação
local, reduzindo a fixação de alelos que são favorecidos sob condições locais e impedindo o
processo de especiação. Por outro lado, o fluxo gênico gera novos polimorfismos nas populações e
aumenta o tamanho efetivo da população local e sua habilidade de resistir a mudanças aleatórias
nas freqüências gênicas, opondo-se à deriva genética e gerando novas combinações de genes nos
quais a seleção natural pode atuar."
"A pesquisa genética se configura como um sítio no qual várias forças políticas se conjugam,
o poder do conhecimento encontra-se a cargo de pessoas com diferentes interesses e o sentido e
interpretação dos fatos está em negociação. Nicholas (2001) sugere que uma melhor compreensão
das dinâmicas sociais e das estratégias através das quais as responsabilidades sociais podem ser
negociadas fortaleceria a agência moral dos próprios pesquisadores, equipando-os para resistir às
pressões de cooptação e apoio a interesses sociais que poderiam explorar aqueles mais
vulneráveis. A exposição das tensões e ambigüidades presentes nos discursos desses cientistas no
entendimento dos seus papéis e responsabilidades sociais abre espaços para novas possibilidades
de negociação para construção de sentidos e interpretações do conhecimento genético."
FONTE:Languardia,J..,2005.Antropo 9,13-27.WWW.didac.ehues\antropo
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